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O que acontece quando uma linguagem de programação morre?

Lembra do Flash? Aquele plugin que rodava jogos, animações e vídeos na internet dos anos 2000? Pois é, ele morreu oficialmente em 31 de dezembro de 2020. A Adobe tomou a decisão, e milhões de sites pararam de funcionar da noite para o dia.

Essa história ilustra algo que muita gente não percebe, a que linguagens de programação têm ciclo de vida. Elas são criadas, dominam o mercado por um tempo e, eventualmente, desaparecem. 

Então, o que realmente acontece quando uma linguagem de programação morre? Vamos explorar esse fenômeno curioso do mundo da tecnologia nesse blog.

Close-up de código de programação JavaScript em monitor, com sintaxe colorida e comandos de script

O que significa uma linguagem “morrer”?

Antes de tudo, precisamos entender que a morte de uma linguagem de programação não é um evento único. Não é como se alguém apertasse um botão vermelho e tudo parasse de funcionar.

Na verdade, existem diferentes níveis de “morte”:

  • Morte comercial acontece quando empresas param de escolher aquela linguagem para novos projetos. Ninguém mais contrata desenvolvedores para começar algo do zero nela.
  • Morte comunitária é quando os programadores “abandonam o barco”. Fóruns ficam vazios, tutoriais param de ser atualizados, bibliotecas não recebem manutenção.
  • Morte oficial ocorre quando os criadores da linguagem encerram o suporte. Sem patches de segurança, sem correção de bugs, sem nada.
  • Morte técnica é o estágio final. A linguagem simplesmente não roda mais em sistemas operacionais modernos, ou exige tanto esforço para funcionar que se torna inviável.

Aqui está um detalhe interessante: algumas linguagens viram verdadeiros zumbis tecnológicos. Cobol, por exemplo, foi criado em 1959 e ainda processa 95% das transações de caixas eletrônicos e 80% das transações presenciais no mundo, segundo dados da Reuters. Está tecnicamente morta para novos projetos, porém viva em sistemas importantes. 

Como uma linguagem chega ao fim?

O ciclo de vida de uma linguagem segue um padrão: nascimento entusiasmado, crescimento acelerado, estabilidade e, por fim, declínio gradual.

Vários fatores podem acelerar esse processo. O mais comum é o surgimento de alternativas melhores. Python, por exemplo, tomou grande parte do espaço que Perl ocupava nos anos 90 e 2000, oferecendo sintaxe mais limpa e bibliotecas mais poderosas.

Mudanças tecnológicas também empurram linguagens para a obsolescência. Quando o mundo migrou para dispositivos móveis, Objective-C dominou o iOS por anos. Depois, a Apple lançou Swift em 2014, e Objective-C começou seu declínio.

Decisões corporativas podem ser letais. A Adobe matou o Flash por uma combinação de problemas de segurança crônicos e a ascensão do HTML5. Em 2010, Steve Jobs escreveu uma carta pública explicando por que a Apple não suportaria Flash no iPhone, citando que a tecnologia era “a causa número 1 de crashes no Mac”. Foi praticamente uma sentença de morte.

Às vezes, o problema está no design da própria linguagem. Perl tinha fama de criar código ilegível (desenvolvedores brincavam que “write-only language” era seu apelido). Isso afastou novos programadores e acelerou a migração para alternativas mais amigáveis.

O que acontece com o código escrito nessa linguagem?

Quando uma linguagem morre, milhões de linhas de código continuam existindo, rodando sistemas e processando informações importantes.

Imagine uma empresa que construiu seu sistema de gestão em Visual Basic 6 nos anos 90. Esse sistema funciona, alinhado à todas as regras de negócio, está integrado com tudo. Reescrever do zero pode custar milhões e levar anos. Então o que acontece? O sistema continua rodando, mesmo que o Visual Basic 6 tenha sido oficialmente descontinuado em 2008.

Esse é o dilema dos sistemas legados: reescrever tudo do zero ou manter funcionando até onde for possível? Não existe resposta fácil. Reescrever é caro e arriscado (você pode introduzir novos bugs ou perder funcionalidades). Manter é mais barato no curto prazo, porém acumula problemas no longo prazo.

Tela de laptop exibindo código HTML e CSS em editor de código com tema escuro

O destino dos desenvolvedores

Quando uma linguagem entra em declínio, os desenvolvedores precisam se adaptar. A boa notícia é que programadores experientes conseguem aprender novas linguagens com relativa facilidade. Os conceitos fundamentais (loops, condicionais, estruturas de dados) são transferíveis.

Porém, sempre existem aqueles que se especializam demais em uma única tecnologia. Quando essa tecnologia morre, eles enfrentam uma escolha, ou seja, reciclar suas habilidades ou virar especialistas raros.

Curiosamente, especialistas em linguagens mortas podem ganhar muito dinheiro. Há pouquíssimos programadores Cobol com menos de 50 anos. Empresas que precisam manter sistemas legados pagam salários premium por esses profissionais. Um desenvolvedor Cobol experiente pode ganhar entre $70.000 e $120.000 anuais nos Estados Unidos, segundo o Dice Tech Salary Report de 2023, valores acima da média para muitas linguagens modernas.

Comunidades nostálgicas também surgem. Fóruns dedicados a linguagens obsoletas continuam ativos, com entusiastas trocando conhecimento e mantendo projetos vivos por pura paixão. O Yahoo Groups tinha comunidades ativas de Pascal e Delphi até ser fechado em 2020.

Malefícios de empresas usarem sistemas em linguagens obsoletas

Enquanto a curiosidade histórica é fascinante, a realidade prática de manter sistemas em linguagens obsoletas pode ser muito prejudicial para empresas.

O problema de segurança é o mais grave. Quando uma linguagem não recebe mais atualizações, vulnerabilidades descobertas permanecem sem correção. Hackers sabem disso e exploram sistemas antigos como alvos fáceis. Um estudo da Veracode de 2023 mostrou que 76% das aplicações contêm pelo menos uma vulnerabilidade de segurança, e esse número aumenta dramaticamente em sistemas legados sem manutenção ativa.

O custo de manutenção cresce exponencialmente com o tempo, pois desenvolvedores que conhecem linguagens obsoletas ficam cada vez mais raros, e seus serviços ficam mais caros. Além disso, a integração com tecnologias modernas vira um pesadelo técnico, sem falar que contratar desenvolvedores também se torna missão impossível. 

Linguagens que ressuscitaram (ou quase)

Nem toda história de declínio termina em morte definitiva. Algumas linguagens ressuscitam, outras influenciam profundamente as gerações seguintes.

Casos de revival completo são raros, porém existem. Rust, lançada em 2010, trouxe conceitos de linguagens acadêmicas antigas como ML e Haskell, combinando-os de forma moderna e prática. Hoje é uma das linguagens que mais cresce em adoção.

Linguagens acadêmicas que nunca foram populares comercialmente deixaram legados imensos. Scheme influenciou JavaScript. ABC inspirou Python. Simula, criada em 1962, estabeleceu os fundamentos da programação orientada a objetos que Java e C# usariam décadas depois.

A herança cultural é fascinante. Brendan Eich criou JavaScript em apenas 10 dias em 1995, inspirando-se fortemente em Scheme. Guido van Rossum desenvolveu Python inspirado pela clareza de ABC. As boas ideias de linguagens antigas não morrem, apenas se transformam e reaparecem em novas roupagens.

Isso mostra que nada se perde completamente no mundo da programação. Cada linguagem contribui com algo, mesmo que seja servir de lição sobre o que não fazer.

Pessoa digitando em laptop prateado sobre sofá bege, com tela exibindo código de programação

Transformação faz parte da evolução

Cada linguagem que desaparece libera espaço para inovação. Ela força desenvolvedores a aprenderem coisas novas, empurra empresas a modernizar sistemas e permite que a indústria evolua. Aqui, o problema é ficar preso em tecnologias que já ultrapassaram seu tempo de validade.

Os conceitos bons sempre reaparecem em novas formas. Garbage collection automático, tipos de dados abstratos, programação funcional, concorrência… essas ideias circulam entre linguagens, sendo refinadas e melhoradas a cada geração.

A lição que fica é que linguagens são ferramentas temporárias. O conhecimento profundo de programação, arquitetura de sistemas e resolução de problemas é o que permanece.

Se você está desenvolvendo um sistema novo ou pensando em modernizar o antigo, escolher tecnologias com futuro garantido faz toda diferença. Quer conversar com quem entende de arquitetura e escolhas tecnológicas inteligentes? Fale com a NextAge e descubra como construir sistemas que duram.

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